RESUMO
PRIMEIRA PARTE
LIVRO APÓSTOLOS¹
É hora de resumirmos nossos achados
até o momento. Nesta primeira parte de nossa pesquisa, procuramos examinar
todas as passagens do Novo Testamento onde o termo apóstolos
(“apóstolo”) ocorre. O alvo da nossa investigação foi determinar a sua origem e
significado, bem como em que sentido ele é empregado no Novo Testamento. Em
linhas gerais, nossas conclusões são as seguintes.
O termo “apóstolo” no Novo Testamento
tem sua origem em Jesus, que o usou para doze discípulos que ele escolheu no
início de seu ministério. O conceito de “apóstolo” já era conhecido no mundo
grego da época, mas Jesus o usa com base em conceitos presentes no Antigo
Testamento e no judaísmo de seus dias, tais como a representação autorizada, a
vocação dos profetas de Israel como enviados de Deus e a própria consciência de
Jesus de ter sido também enviado por Deus ao mundo. Na literatura rabínica
posterior, encontra-se um conceito similar ao de apóstolo, que é o shaliah, alguém enviado com poderes de
representação. Apesar da semelhança entre eles, o conceito de apóstolo
transcende o do shaliah no aspecto
escatológico e missionário e é certamente anterior a este.
Os doze apóstolos de Jesus foram
escolhidos por ele de maneira soberana, dentre a multidão que o seguiam. O
número doze é fixo, pois é a contraparte dos doze patriarcas das doze tribos de
Israel e indica a liderança do novo Israel, que é a Igreja de Cristo. A missão
primordial que Jesus lhes deu, foi de seres as testemunhas autorizadas de que
ele havia ressuscitado dentre os mortos, e sobre este fundamento erguer o
edifício da Igreja cristã, batizando e discipulando os que crescem nesta
mensagem. Para tanto, lhe foi concedido realizar sinais e prodígios e registar,
sob a inspiração do Espírito Santo, os fatos concernentes à vida e obra de
Jesus, e dar a explicação dos mesmos para os que crescem. Como aqueles que
foram testemunhas oculares da ressurreição e nomeados diretamente por Jesus
Cristo como seus apóstolos, os doze não tem sucessores e nem Pedro, que era seu
líder. Da mesma forma que a missão dos profetas de Israel terminou com o último
livro do Antigo Testamento, a missão dos doze terminou com os escritos no Novo
Testamento.
Saulo de Tarso, por sua vez, foi
chamado diretamente por Jesus Cristo, num aparição após a ressurreição, para
ser apóstolo dele aos gentios. Como os doze, Paulo viu o Cristo ressurreto, foi
comissionado diretamente por Ele e sofreu muito por causa do evangelho. Seu
apostolado foi reconhecido pelos doze, embora Paulo se considerasse o menor dos
apóstolos. Na condição de apóstolo de Jesus Cristo, Paulo se via como sucessor
dos profetas de Israel e capaz de interpretar de maneira autoritativa os
escritos deles, mediante a revelação dos mistérios das Escrituras pelo Espírito
Santo. Seus escritos eram inspirados, como aqueles dos doze e dos profetas de
Israel.
Paulo e os doze são chamados de
“apóstolos de Jesus Cristo” em distinção aos demais, que eram apóstolos ou
enviados de igrejas locais, e formam um grupo exclusivo e fechado. Assim, não
encontramos fundamentos bíblicos para a afirmação de que Paulo representa uma
segunda geração de apóstolos, depois dos doze, e que serve de fundamento para a
existência de apóstolos em nossos dias.
A outras pessoas que são claramente
chamadas de apóstolos no Novo Testamento, como Barnabé, Silvano, Timóteo e
Epafrodito. Nestes casos, vimos que foram chamados assim por serem enviados ou
mensageiros de igrejas locais para pregar o evangelho ou levar ofertas. Embora
se argumente que Tiago, Apolo, Andrônico e Júnias eram apóstolos, não
encontramos evidências textuais suficientes para fazer esta afirmação de
maneira clara. Já aqueles que são chamados por Paulo de “apóstolos das
igrejas”, eram irmãos enviados pelas igrejas gentílicas para auxiliarem Paulo
no levantamento e entrega das ofertas dos gentios aos judeus de Jerusalém.
Ser “apóstolo” não era um dom
espiritual, como o dom de profeta, mestre ou pastor, mas uma designação de uma
função. Esta função, no caso dos doze e de Paulo, assumia conotação de ofício,
que implicava numa instalação pública e oficial, reconhecida por todos – ou
pela maioria. No caso dos demais, descrevia o trabalho deles como enviados em
uma missão. Todos os que são chamados de apóstolos no Novo Testamento
precisavam de dons espirituais para desempenhar suas missões, mas o apostolado
em si, não era um dom espiritual – mas a nomeação ou descrição de um ofício ou
função. Como tais, os apóstolos de Jesus Cristo – os doze e Paulo – figuram
primeiro nas listas de ministérios e dons espirituais, pela sua primazia,
excelência e autoridade. Não sendo um dom espiritual, o apostolado dos doze e
de Paulo não pode ser reivindicado para nossos dias em nome da
contemporaneidade de todos os dons espirituais descritos no Novo Testamento.
Por ser um ofício com uma missão fundadora, o apostolado não está mais
disponível em nossos dias, a não ser se entendido no sentido mais amplo do
termo, a saber, enviado, delegado, emissário, missionário ou mensageiro.
Deste cedo, apareceram na Igreja
aqueles que reivindicavam ser apóstolos tanto quanto os doze e Paulo, como os
obreiros fraudulentos que se introduziram na igreja de Corinto e de Éfeso.
Entretanto, já em seus dias, foram rechaçados em suas pretensões e rotulados de
falsos apóstolos e obreiros de Satanás. Todavia, estes fatos não foram
suficientes para refrear, nos séculos subsequentes, a usurpação deste que é o
ofício mais excelente da Igreja.
____________________________
¹LOPES,
Augustus Nicodeus. Apóstolos: a
verdade bíblica sobre o apostolado. São José dos Campos, SP: Fiel, 2014. p.
147-150.
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