terça-feira, 15 de novembro de 2016

APÓSTOLOS


RESUMO PRIMEIRA PARTE

LIVRO APÓSTOLOS¹


É hora de resumirmos nossos achados até o momento. Nesta primeira parte de nossa pesquisa, procuramos examinar todas as passagens do Novo Testamento onde o termo apóstolos (“apóstolo”) ocorre. O alvo da nossa investigação foi determinar a sua origem e significado, bem como em que sentido ele é empregado no Novo Testamento. Em linhas gerais, nossas conclusões são as seguintes.
O termo “apóstolo” no Novo Testamento tem sua origem em Jesus, que o usou para doze discípulos que ele escolheu no início de seu ministério. O conceito de “apóstolo” já era conhecido no mundo grego da época, mas Jesus o usa com base em conceitos presentes no Antigo Testamento e no judaísmo de seus dias, tais como a representação autorizada, a vocação dos profetas de Israel como enviados de Deus e a própria consciência de Jesus de ter sido também enviado por Deus ao mundo. Na literatura rabínica posterior, encontra-se um conceito similar ao de apóstolo, que é o shaliah, alguém enviado com poderes de representação. Apesar da semelhança entre eles, o conceito de apóstolo transcende o do shaliah no aspecto escatológico e missionário e é certamente anterior a este.
Os doze apóstolos de Jesus foram escolhidos por ele de maneira soberana, dentre a multidão que o seguiam. O número doze é fixo, pois é a contraparte dos doze patriarcas das doze tribos de Israel e indica a liderança do novo Israel, que é a Igreja de Cristo. A missão primordial que Jesus lhes deu, foi de seres as testemunhas autorizadas de que ele havia ressuscitado dentre os mortos, e sobre este fundamento erguer o edifício da Igreja cristã, batizando e discipulando os que crescem nesta mensagem. Para tanto, lhe foi concedido realizar sinais e prodígios e registar, sob a inspiração do Espírito Santo, os fatos concernentes à vida e obra de Jesus, e dar a explicação dos mesmos para os que crescem. Como aqueles que foram testemunhas oculares da ressurreição e nomeados diretamente por Jesus Cristo como seus apóstolos, os doze não tem sucessores e nem Pedro, que era seu líder. Da mesma forma que a missão dos profetas de Israel terminou com o último livro do Antigo Testamento, a missão dos doze terminou com os escritos no Novo Testamento.
Saulo de Tarso, por sua vez, foi chamado diretamente por Jesus Cristo, num aparição após a ressurreição, para ser apóstolo dele aos gentios. Como os doze, Paulo viu o Cristo ressurreto, foi comissionado diretamente por Ele e sofreu muito por causa do evangelho. Seu apostolado foi reconhecido pelos doze, embora Paulo se considerasse o menor dos apóstolos. Na condição de apóstolo de Jesus Cristo, Paulo se via como sucessor dos profetas de Israel e capaz de interpretar de maneira autoritativa os escritos deles, mediante a revelação dos mistérios das Escrituras pelo Espírito Santo. Seus escritos eram inspirados, como aqueles dos doze e dos profetas de Israel.
Paulo e os doze são chamados de “apóstolos de Jesus Cristo” em distinção aos demais, que eram apóstolos ou enviados de igrejas locais, e formam um grupo exclusivo e fechado. Assim, não encontramos fundamentos bíblicos para a afirmação de que Paulo representa uma segunda geração de apóstolos, depois dos doze, e que serve de fundamento para a existência de apóstolos em nossos dias.
A outras pessoas que são claramente chamadas de apóstolos no Novo Testamento, como Barnabé, Silvano, Timóteo e Epafrodito. Nestes casos, vimos que foram chamados assim por serem enviados ou mensageiros de igrejas locais para pregar o evangelho ou levar ofertas. Embora se argumente que Tiago, Apolo, Andrônico e Júnias eram apóstolos, não encontramos evidências textuais suficientes para fazer esta afirmação de maneira clara. Já aqueles que são chamados por Paulo de “apóstolos das igrejas”, eram irmãos enviados pelas igrejas gentílicas para auxiliarem Paulo no levantamento e entrega das ofertas dos gentios aos judeus de Jerusalém.
Ser “apóstolo” não era um dom espiritual, como o dom de profeta, mestre ou pastor, mas uma designação de uma função. Esta função, no caso dos doze e de Paulo, assumia conotação de ofício, que implicava numa instalação pública e oficial, reconhecida por todos – ou pela maioria. No caso dos demais, descrevia o trabalho deles como enviados em uma missão. Todos os que são chamados de apóstolos no Novo Testamento precisavam de dons espirituais para desempenhar suas missões, mas o apostolado em si, não era um dom espiritual – mas a nomeação ou descrição de um ofício ou função. Como tais, os apóstolos de Jesus Cristo – os doze e Paulo – figuram primeiro nas listas de ministérios e dons espirituais, pela sua primazia, excelência e autoridade. Não sendo um dom espiritual, o apostolado dos doze e de Paulo não pode ser reivindicado para nossos dias em nome da contemporaneidade de todos os dons espirituais descritos no Novo Testamento. Por ser um ofício com uma missão fundadora, o apostolado não está mais disponível em nossos dias, a não ser se entendido no sentido mais amplo do termo, a saber, enviado, delegado, emissário, missionário ou mensageiro.
Deste cedo, apareceram na Igreja aqueles que reivindicavam ser apóstolos tanto quanto os doze e Paulo, como os obreiros fraudulentos que se introduziram na igreja de Corinto e de Éfeso. Entretanto, já em seus dias, foram rechaçados em suas pretensões e rotulados de falsos apóstolos e obreiros de Satanás. Todavia, estes fatos não foram suficientes para refrear, nos séculos subsequentes, a usurpação deste que é o ofício mais excelente da Igreja.


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¹LOPES, Augustus Nicodeus. Apóstolos: a verdade bíblica sobre o apostolado. São José dos Campos, SP: Fiel, 2014. p. 147-150.



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